Tomar Tempo
Cássia Nunes

Performance, duração indeterminada
Fotografias de AmorExperimentalDanilo DilettosoGrasiele Cabelodroma e Ednardo Lucas

PERFOR 4 - São Paulo, 2013
REFLUXO : Festival Experimental de Artes - Goiânia, 2016 (com participação de Elisa Abrão, Iago Araújo e Kleber Damaso)



Instalar-se em meio ao fluxo urbano, guiado pelos valores de eficiência e produtividade, e mover-se lentamente dentro do tempo.

Inspirada pela chanoyu, cerimônia do chá japonesa, esta performance instaura um momento de contemplação contrastante com o cotidiano das ruas. Assim, como extraímos os princípios essenciais de plantas colocadas em infusão no preparo de chás, neste trabalho, a artista propõe extrair os tempos materializados em seus cabelos e nos de outras pessoas. Realiza-se assim, uma espécie de ritual antropofágico, no qual tais tempos são (re)incorporados ao beber o chá preparado com as mechas obtidas ao cortar os seus cabelos e de outras pessoas.


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Meus cabelos. Os tenho longos há três anos e quando penso em cortá-los me vem à mente o tempo que levaram para crescer. Cortá-los curto pressupõe aceitar recomeçar este tempo e exige serenidade. Talvez, o tempo de crescimento dos cabelos represente bem o tempo do humano e suas mudanças. Tempo este tão negligenciado pela vida moderna. (2013)


"o cabelo pode ser bem ou mal cortado, com estilo ou nas coxas, com tesouras de três mil dólares ou com um serrote de poda, mas que o que é preciso respeitar com todo empenho é a regularidade, uma vez por mês, quer chova, troveje ou desabe o teto do céu sobre a cabeça do mundo, porque só cortando-o uma vez por mês o cabelo tem a vida que precisa ter para crescer bem, saudável, para crescer mesmo quando todo o corpo tiver parado de crescer e esteja morrendo, para crescer mesmo depois de morto, que é o ponto mais alto do milagre, porque o cabelo que cresce nos mortos cresce no mundo dos vivos."
[História do cabelo. Alan Pauls. São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 147-148]



  


Grata pelo cheiro e espuma ofertados por Alessandra Valle e pelos tempos [materializados em mechas de cabelos] compartilhados por Fernanda Botega, Walker Meykom, Vanusa Fonseca, Luiz Gonçalves, Andreia Farina e Laurinha Braga.

















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