"A árvore se refugia na folha, a casa na porta e a cidade na casa. E eu contemplava o mesmo espetáculo, sempre e sempre. A árvore convertida em folha, a casa em porta e a cidade numa casa. Por isso, devia reunir esforços para não refugiar-me em minhas próprias mãos."

(Fando y Lis / Jodorowsky, 1968)
















Pra ter a casa habitada é preciso deixá-la suja!

Arredar uma mesa que ficava encostada na parede já parece um convite para ocupar o espaço e dinamizá-lo.

Ando desleixada com a limpeza, porém parece que tudo está organizado.
Até demais!
A porta da sala já não abro mais, com o tempo passou a fazer um barulho insuportável raspando no chão.
Somente a porta da cozinha!

Reduzir-me em minhas próprias mãos.
Correr o risco de se quebrar de tanto pressionar com os dedos.
Escorrer entre os próprios dedos.
Segurar-se com as próprias mãos, alojar-se na palma destra, não ver além do fim da linha da própria mão.
Sabe-se que há mais, sempre há!

Penso que chegará a hora em que desistirei de abrir todas as portas e janelas e me mudarei.
Não terei casa.
Tampouco louça, panelas, guarda-roupas, geladeira, fruteira, lixo, gavetas, estantes.
Nada que se guarde, que empoeire, que pese e imobilize para uma ação rápida e espontânea.


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"a casa pode ser uma casa.
uma vivenda.
uma oca.
um apartamento.
uma cela.
uma árvore.
um quarto de hospital.
uma sala.
uma cozinha.
uma calçada.
uma caixa.

a minha casa pode não ser nada disso."



(Poema do livro-objeto Os eventos são quase sempre os mesmos de Lourdinha Barbosa. O livro é composto por envelopes de cartas em caixinha de papelão)


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escrever um livro em envelopes é um convite ao desalojar-se.


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Pegar todas as roupas e sapatos, neles plantar espécies de samambaias e outras plantas que vivam dependuradas e depositar em casas abandonadas.
Convidar as pessoas para que visitem os locais e levem água para molhá-las.
Quando não mais vivos estiverem os vasos-vestimentas, simbolizada estará a mudança e o abandono desta mania de se fixar.






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