Não sou cantora.
Não sei se poderia ser.
Minha arte é a das experiências
sensoriais elaboradas pelo corpo em ação e seus desdobramentos em imagens-poemas.
Gosto de me orientar pela ideia
de uma religiosidade mundana e criar rituais pessoais e efêmeros para
compartilhar com o público.
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Vejo muitos vídeos da cantora
Joan Baez e não há um que não me toque profundamente pela sua presença diante
de um público.
Não é a sua timidez que me comove.
É a sua intenção artística
perceptível em sua voz, seu olhar e postura corporal ao segurar seu violão.
Vendo vídeos de suas apresentações,
processo sentimentos de seriedade e simplicidade. Concluo, que tais sentimentos
dizem algo deste meu jeito de ser religiosa, de querer me religar a algo que
sinto como vital.
Não é a simplicidade de suas roupas
e corte de cabelo, porque vejo mais elegância e até mesmo sofisticação do que um
modo simplório de ser.
Penso que alguns artistas são uma
espécie de missionários sem igreja e a arte é o meio sensível pelo qual
conseguem se realizar criativamente!
São missionários de si mesmos, de
seus desejos e necessidades de ‘estar junto’.
Sem ideais mirabolantes e
universalistas.
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Dylan não poderia continuar no
mesmo palco que Baez.
A postura artística deste cara é
marcada pela constante desconstrução das imagens-obrigações
que público, críticos e produtores tentam fixar em sua persona.
Baez não foca seu olhar em imagens-rótulos, apesar de algumas terem sido delineadas a partir de sua trajetória!
No entanto, seu foco é sempre distante do
palco. Quando canta seu olhar não se prende a esta estrutura.
Seu olhar envolve a aura das
pessoas ali presentes, tornando o ambiente circular como um abraço lançado ao
alto.
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